segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Ao dia do mendigo.

Queria parabenizar a todos os mendigos que vivem suas duras vidas e apesar de todos os contratempos, resistem bravamente, sendo vítimas e sobreviventes do capitalismo.

Parabéns pela resistência, mendigo! Sem sua existência não poderíamos ser nobres praticando a caridade. Você, mendigo, que luta, que cata lixo, que reivindica (com humildade) o pão semanal. Você que tem coragem de andar nas grandes avenidas mesmo estando sujo e com cheiro de urina. Você, mendigo, que tem o pé cascudo, pois a falta de um par de calçados não te é o bastante para que fiques parado. A você, mendigo, fica o meu abraço (simbólico, pois a admiração e o asco andam juntos nesta tua empreitada).
Parabéns a todos os mendigos.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A FOME DE MARINA

Por José Ribamar Bessa Freire*


Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”.
Os Silva não têm saída: se correr o Caetano pega, se ficar a Rita come.
Tais declarações são espantosas, porque foram feitas não por pistoleiros truculentos, mas por dois artistas refinados, sensíveis e contestadores, cujas músicas nos embalam e nos ajudam a compreender a aventura da existência humana.
Num país dominado durante cinco séculos por bacharéis cevados, roliços e enxudiosos, eles naturalizaram o canudo de papel e a banha como requisitos indispensáveis ao exercício de governar, para o qual os Silva, por serem iletrados e subnutridos, estariam despreparados.
Caetano Veloso e Rita Lee foram levianos, deselegantes e preconceituosos. Ofenderam o povo brasileiro, que abriga, afinal, uma multidão de silvas famélicos e desescolarizados.
De um lado, reforçam a ideia burra e cartorial de que o saber só existe se for sacramentado pela escola e que tal saber é condição sine qua non para o exercício do poder. De outro, pecam querendo nos fazer acreditar que quem está com fome carece de qualidades para o exercício da representação política.
A rainha do rock, debochada, irreverente e crítica, a quem todos admiramos, dessa vez pisou na bola. Feio.“Venenosa! Êh êh êh êh êh!/ Erva venenosa, êh êh êh êh êh!/ É pior do que cobra cascavel/ O seu veneno é cruel…/ Deus do céu!/ Como ela é maldosa!”.
Nenhum dos dois - nem Caetano, nem Rita - têm tutano para entender esse Brasil profundo que os silvas representam.
A senadora Marina da Silva tem mesmo cara de quem está com fome? Ou se trata de um preconceito da roqueira, que só vê desnutrição ali onde nós vemos uma beleza frágil e sofrida de Frida Kahlo, com seu cabelo amarrado em um coque, seus vestidos longos e seu inevitável xale? Talvez Rita Lee tenha razão em ver fome na cara de Marina, mas se trata de uma fome plural, cuja geografia precisa ser delineada. Se for fome, é fome de quê?
O mapa da fome
primeira fome de Marina é, efetivamente, fome de comida, fome que roeu sua infância de menina seringueira, quando comeu a macaxeira que o capiroto ralou. Traz em seu rosto as marcas da pobreza, de uma fome crônica que nasceu com ela na colocação de Breu Velho, dentro do Seringal Bagaço, no Acre.
Órfã da mãe ainda menina, acordava de madrugada, andava quilômetros para cortar seringa, fazia roça, remava, carregava água, pescava e até caçava. Três de seus irmãos não aguentaram e acabaram aumentando o alto índice de mortalidade infantil.
Com seus 53 quilos atuais, a segunda fome de Marina é dos alimentos que, mesmo agora, com salário de senadora, não pode usufruir: carne vermelha, frutos do mar, lactose, condimentos e uma longa lista de uma rigorosa dieta prescrita pelos médicos, em razão de doenças contraídas quando cortava seringa no meio da floresta. Aos seis anos, ela teve o sangue contaminado por mercúrio. Contraiu cinco malárias, três hepatites e uma leishmaniose.
A fome de conhecimentos é a terceira fome de Marina. Não havia escolas no seringal. Ela adquiriu os saberes da floresta através da experiência e do mundo mágico da oralidade. Quando contraiu hepatite, aos 16 anos, foi para a cidade em busca de tratamento médico e aí mitigou o apetite por novos saberes nas aulas do Mobral e no curso de Educação Integrada, onde aprendeu a ler e escrever.
Fez os supletivos de 1º e 2º graus e depois o vestibular para o Curso de História da Universidade Federal do Acre, trabalhando como empregada doméstica, lavando roupa, cozinhando, faxinando.
Fome e sede de justiça: essa é sua quarta fome. Para saciá-la, militou nas Comunidades Eclesiais de Base, na associação de moradores de seu bairro, no movimento estudantil e sindical. Junto com Chico Mendes, fundou a CUT no Acre e depois ajudou a construir o PT.
Exerceu dois mandatos de vereadora em Rio Branco , quando devolveu o dinheiro das mordomias legais, mas escandalosas, forçando os demais vereadores a fazerem o mesmo. Elegeu-se deputada estadual e depois senadora, também por dois mandatos, defendendo os índios, os trabalhadores rurais e os povos da floresta.
Quem viveu da floresta, não quer que a floresta morra. A cidadania ambiental faz parte da sua quinta fome. Ministra do Meio Ambiente, ela criou o Serviço Florestal Brasileiro e o Fundo de Desenvolvimento para gerir as florestas e estimular o manejo florestal.
Combateu, através do Ibama, as atividades predatórias. Reduziu, em três anos, o desmatamento da Amazônia de 57%, com a apreensão de um milhão de metros cúbicos de madeira, prisão de mais 700 criminosos ambientais, desmonte de mais de 1,5 mil empresas ilegais e inibição de 37 mil propriedades de grilagem.
Tudo vira bosta
Esse é o retrato das fomes de Marina da Silva que - na voz de Rita Lee - a descredencia para o exercício da presidência da República porque, no frigir dos ovos, “o ovo frito, o caviar e o cozido/ a buchada e o cabrito/ o cinzento e o colorido/ a ditadura e o oprimido/ o prometido e não cumprido/ e o programa do partido: tudo vira bosta”.
Lendo a declaração da roqueira, é o caso de devolver-lhe a letra de outra música - ‘Se Manca’ - dizendo a ela: “Nem sou Lacan/ pra te botar no divã/ e ouvir sua merda/ Se manca, neném!/ Gente mala a gente trata com desdém/ Se manca, neném/ Não vem se achando bacana/ você é babaca”.
Rita Lee é babaca? Claro que não, mas certamente cometeu uma babaquice. Numa de suas músicas - ‘Você vem’ - ela faz autocrítica antecipada, confessando: “Não entendo de política/ Juro que o Brasil não é mais chanchada/ Você vem… e faz piada”. Como ela é mutante, esperamos que faça um gesto grandioso, um pedido de desculpas dirigido ao povo brasileiro, cantando: “Desculpe o auê/ Eu não queria magoar você”.
A mesma bala do preconceito disparada contra Marina atingiu também a ministra Dilma Rousseff, em quem Rita Lee também não vota porque, “ela tem cara de professora de matemática e mete medo”. Ah, Rita Lee conseguiu o milagre de tornar a ministra Dilma menos antipática! Não usaria essa imagem, se tivesse aprendido elevar uma fração a uma potência, em Manaus, com a professora Mercedes Ponce de Leão, tão fofinha, ou com a nega Nathércia Menezes, tão altaneira.
Deixa ver se eu entendi direito: Marina não serve porque tem cara de fome. Dilma, porque mete mais medo que um exército de logaritmos, catetos, hipotenusas, senos e co-senos. Serra, todos nós sabemos, tem cara de vampiro. Sobra quem?
Se for para votar em quem tem cara de quem comeu (e gostou), vamos ressuscitar, então, Paulo Salim Maluf ou Collor de Mello, que exalam saúde por todos os dentes. Ou o Sarney, untuoso, com sua cara de ratazana bigoduda. Por que não chamar o José Roberto Arruda, dono de um apetite voraz e de cuecões multi-bolsos? Como diriam os franceses, “il péte de santé”.
O banqueiro Daniel Dantas, bem escanhoado e já desalgemado, tem cara de quem se alimenta bem. Essa é a elite bem nutrida do Brasil…
Rita Lee não se enganou: Marina tem a cara de fome do Brasil, mas isso não é motivo para deixar de votar nela, porque essa é também a cara da resistência, da luta da inteligência contra a brutalidade, do milagre da sobrevivência, o que lhe dá autoridade e a credencia para o exercício de liderança em nosso país.
Marina Silva, a cara da fome? Esse é um argumento convincente para votar nela. Se eu tinha alguma dúvida, Rita Lee me convenceu definitivamente.
(*) Professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ)e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO)

domingo, 28 de março de 2010

Resposta à "quem desinventou o amor?".

Menina moça, eu vou te dar uma resposta
Não sei se é do tipo que você gosta
Mas vou te dar uma resposta

Tem coisa que a gente não conta e nem mostra
Que ouvir não é qualquer um que gosta
Mas vou te dar uma resposta

Oh, minha flor, lamento se também ecoou no seu peito
Aquela dor sem cura, sem jeito
Que já andou nesse peito meu
Quem desinventou o amor? Eu sei quem
Só pode ter sido alguém
Que nunca te conheceu


Não é fácil desamar essa moça
Tem que ser fraco, mas ela é força
Que não me deixa parar
Faz ZumZum pra você mesma ver
Como é certo de aparecer
Esse alguém que vai sempre te amar

Minha moça, eu vou te dar uma resposta
Não sei se é do tipo que você gosta
Mas vou te dar uma resposta...

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Devir de evolução

Para evoluir a si
A si o ser volta
Mas não se revolta consigo como tal
O ser está so far...
E eu, so near
De ser neandertal

E o ser cria casa
E se domestica para ser humano ser
Inventa a roda e o fogo
E uma roda de fogo
Para pular no meio e o público ver
E aplaudir de pé

O ser acha que foi ou é
E no final eu sendo
Demá!
Ziá!
Damein!
Tixim!
Pans é!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Eu não gosto de você!

Nunca tinha experimentado
Tanta liberdade de expressão.
Era muita emoção.
Uma sensação tão boa.
Meu coração acelerado
E você com aquela reação à toa?

Não pude entender;
Um 'eu não gosto de você',
Tão seco, sem clichê.
Era para simplesmente te arrasar.
Você tão cheia de personalidade
Encarou com tanta naturalidade
e me respondeu tão somente um "tá"?!?

"Tá" nem é verbo de verdade,
É menos que a metade
Não chega a ser uma expressão
Como se você não se importasse
Mas sei que se importa
Por isso, abra essa porta
Para que assim que eu dela passe
E possa
Finalmente te pedir perdão!

domingo, 17 de janeiro de 2010

Labirinto Lúcido

No labirinto desenhado de tua pela
E nas gélidas formas que te são profundas
Que misturo minhas fantasias
A tuas imagens lúcidas

E te convido a se perder
Igualmente em meu labirinto
Não te faço juras de amor
Pois só juro quando minto

O que eu faço pra te entender?
O que eu faço pra me explicar?
O que não faria pra me perder e te ganhar?

E o que eu faço pra me entender?
O que eu faço pra te explicar?
Que faria tudo pra me perder
E te encontrar?

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Encontro Marxista

Nada do que consegui foi fácil pra mim
Fico feliz por ter sido assim
Já recebi todo o tipo de não:
Da vida; não na minha sina; não sobre as minhas vistas
E agora tudo que eu tenho posso chamar de conquista

E agradeço ao "sistema" por ser a merda que é
Pois posso reclamar e bater o pé
Para que alguma mudança se faça
Ou não teria graça
Tudo estar tão certo
Por perto, ao alcance da mão
Tudo tão simples
Que eu diria
Simplismente: não!

Quando nada está da forma que a gente quer
Dizem que quando não é pra, ser não é
Mas pra deixar tudo da forma que a gente quer
Tenha força e fé.

sábado, 17 de outubro de 2009

Bis

Ela sai de saia
Roda e a saia levanta
Ela é a mulher do samba
Ele veste a calça
Firme e confiante
Ele é o homem do funk

Ela sai da gafieira
Ele desce a ladeira
Zoam na pista
Com vista pra praia

Ele se distrái
Com um tango-trance-africano
Ela espera que a fera se tráia

Seus olhos se cruzam
Os corpos querem também
Os arrepios dizem a que vem

Ela propõe que tudo vá para o inferno
Ele propõe que os anjos digam amém

Ele toca a sua saia
Ele diz que a ama
Ela o faz a mulher na cama

Ela tira a sua calça
Ela é puro fogo
Ele a faz o homem no jogo...

domingo, 27 de setembro de 2009

Da inexistência do amor

Não existe aquele determinado amor
Que determinado poeta determinou
Mas aquele outro amor
Que outro poeta outrou
Este sim.

Amor:
Assentamento para qualquer sentimento desastroso
Ou melhor:
Tempero para o sexo ser ainda mais gostoso

Algo que se nega de longe
Ainda que se sinta de perto
Conceito tão errado que é o único
Que nesse mundo ainda é certo.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Leviandade.

Sou leve, leviano.
Em forma, cor e som
Em incorporação
Da mente que sente
A breve brisa passante.

Navego por imagens rasas.
Deturpo, perturbo e entorpeço
O endereço do que sinto
E não sinto peso.

Pois sou leve, leviano.

sábado, 4 de julho de 2009

Limiar

Meu mundo pára onde ela começa
Mas de todo sonho a gente desperta
Toda alma fracionada é extirpada
E toda a solidão é refletida
Em um um espelho convexo
Na fachada de um rosto
Que se acostumou em fingir
Saber ser feliz.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Soneto Assíncrono

A história descobrirá que Alexandre preferia ser médio
A ciência descobrirá que toda a ciência é mentira
E Deus perceberá o quão certo estão os ateus

O homem descobrirá que pra nada servira
Os donos descobrirão que nada são seus
E os médicos descobrirão que a morte é o remédio

Só porque eu quero.
E você também há de querer
Um mundo feito com mais poesias
Isso porque eu quero
E não me canso de querer
Só não quero que rime no final.
Por favor, não! Não rime no final!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Sementes de Circe

Respeitável público!

Circe, o agricultor palhaço, semeou! Suas sementes deram as más frutas de melhor qualidade do mundo. Coma e morra! Coma e se mate! Se mate e coma, por favor.
Caos não se rega, é a regra. Não a ignore. Não a regra, mas a semente.

Circe não colhe seus frutos. Ele deixa Newton fazer seu trabalho. Que apodreçam no chão. Pobres viajantes desavisados... Estes sim, colhem e comem – colhem do chão.
Há frutas de comer, diz Circe, e frutas de não-comer, Circe diz. Mas o não-comer não as tornam mais aerodinâmicas. Não, mesmo. As caras não as recebem bem e suas sementes se vão em muitas águas... com sabão.

Fruta que é fruta apodrece no chão. Somente sementes, diz Circe, não.

Há uma canção pra cada vez que te vejo

Sim, eu sei que só te vi uma vez
E já confundi assovio, mordida e beijo
O grito, num cínico silêncio se desfez
Há uma canção pra cada vez que te vejo

Que não é de saudade, pois eu nunca a tive
Nem é de paixão, pois se sobrevive
Que não é sobre dor, pois eu nada sinto
Nem de superação, pois não me limito

Não é de desabafo, não há nada errado
Não é de perdão, pois não há pecado
Não é sobre orgulho, pois não a mereço
E muito menos de amor, pois nem a conheço.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Preferências

Gosto da terra, mas prefiro o mar
Gosto de montanha, mas prefiro a praia
Gosto do Sol, mas prefiro a Lua
Gosto das tuas roupas, mas prefiro nua

Gosto do sal, mas prefiro o adocicado
Gosto de uva, mas prefiro o vinho
Gosto de cinema, mas prefiro a música
Gosto da tua testa, mas prefiro a nuca

Gosto do urbano, mas prefiro o selvagem
Gosto dos retratos, mas prefiro paisagens
Gosto de chuveiro, mas prefiro a chuva
Gosto da tua retidão, mas prefiro suas curvas

Gosto de ficar sozinho, mas prefiro acompanhado
Gosto do programado, mas prefiro o espontâneo
Gosto de faz-de-conta, mas prefiro pra valer
Gosto de lambê-la, mas prefiro te morder

Gosto de crer, mas prefiro duvidar
Gosto de partir, mas prefiro ficar
Gosto de você, mas prefiro te amar
Como gosto de preferir, mas prefiro gostar.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Para concordar

Se você estivesse no meu lugar
E visse o que vi
Com os olhos que olhei
Pelo ângulo que observei
E analisasse da forma que analisei
De forma a tirar as conclusões que tirei

Então você não seria você...

...Mas concordaria comigo.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Pesadelo Normal

Tive um pesadelo normal
Típico de um sonho mal
No qual pra faculdade eu ia
Para apresentar minha monografia

Eis que surge um professor de minha banca
Me olha de cima a baixo e se espanta
Reclama feito um mala-sem-alça
- Rodrigo, tu vieste sem calça!? -

A acusação era pura verdade
Viera eu sem calça à faculdade
Mas não via atentado ao pudor
Afinal, fazia muito calor

- Apresentação de monografia é solenidade -
Dizia o professor, sem piedade
- Esteja de calça diante de mim
Não podes apresentar a monografia assim -

Sem calça, frustrado, tive uma epifania
Henrique Sá compadecera-se de minha agonia
E enquanto tudo era por ele filmado
Fez-me uma proposta que me deixara tentado

- Veste minha calça, não preciso dela
Sou um poeta do absurdo, só preciso de janelas -
Agradeci ao meu amigo por seu gesto nobre
- Tuas calças mais valeram que prata, ouro e cobre -

E de calça apresentei-me, mas de nada valia
Estava atrás de uma mesa e a calça sequer aparecia
Foi quando de súbito percebi que estava acordado
E que em momento algum estive eu pelado

Só era encarcerado
Pela norma mais uma vez
Respirei então aliviado
- Sem calça estão vocês!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Hoje, Ontem e Amanhã

Ontem comentarei sobre o que descobri amanhã.
Amanhã é o hoje que ainda não acontece,
Assim como o ontem é o amanhã que já terminou.
Enquanto o hoje é o ontem e o amanhã que ainda (ou já) está acontecendo.

O futuro é tão intangível.
O passado é tão imutável.
O presente...
Tão inegável.

Quanto tempo preciso.
Quanto tempo preciso,
Para ver a retórica do tempo?

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Poema Cris-talino

Cris e etc.
Cris-tal
Me e tão clara
A poetisa

Mais que o Nirvana
E que o Tao
A gema clara
Cris-tal

Crises e eu
(Cris no plural)
Me é tão rara
A divisa

Mais que o bem
E que o mal
Um poema para
Cris-tal.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Modesto e Perfeito

Vim direto do paraíso
Transformando toda dor em riso
Feito da matéria da qual é feito o Amor
Deixa de lado a razão
Raciocine pela emoção
Só assim entenderás o que eu sou

Às vezes tapado feito uma porta
Meio relapso, mas quem se importa?
Não vejo nenhum problema que isso possa nos causar
A não ser que até você fique andando
Pela cabeça de uns que ficam maquinando
Alguma coisa pra nos prejudicar

E se disserem que sou exibido
Egoísta, egocêntrico e até pervertido
Ou tantos outros que esse povo me chama
Lembre-se que eles estão mentindo
Que não são esses meus adjetivos
Pensando bem, são, mas não ligo
Pois todo mundo me ama

Eu sei que tenho muitos defeitos
E só duas qualidades: modesto e perfeito
Ser vaidoso e não fazer nada direito
Não me impede de ser modesto e perfeito

Se eu desisto de coisas da minha própria vida
Antes mesmo da primeira tentativa
É porque, de fazer, eu já não tinha vontade
E se alguma vez alguém já ouvira
Dizer algo falso, não era mentira.
Mas uma astuciosa reinvenção da verdade

Por tanto se eu errar (com você)
Vê se me perdoa
Pois será um erro de coisinha à toa
É até chato dizer algo assim
Mas você não encontrará ninguém igual a mim
Naturalmente distraído,
O mais certo ‘cara errado’
Completamente apaixonado
E de narciso infinito

Bronha Blog Blues

Nestes dias tão cinzentos
Nos quais acordo tão triste
Posto em meu blog
Uma música que nem existe...

E toco uma
pensando em vocês.
Eu toco uma canção pensando em vocês

Nesse dias de inferno
Eu sei o caminho do paraíso
Escrevo uma música
Louca e sem juízo...

E toco outra
pensando em vocês.
Eu toco outra canção pensando em vocês

E se vocês escreverem
Vários comentários de uma vez
Eu toco uma pensando em vocês.

Elogiem o que está escrito
Elogie quem o fez
E eu toco outra canção pensando em vocês.

Pois se a pessoa certa
Comenta animada
Até a minha alma
Fica excitada
E já nem me preocupo
Se cansa a minha mão
Eu bato, toco, bato
As cordas do meu violão

E toco uma
pensando em vocês.
Eu toco uma canção pensando em vocês.

Mas todo esse problema
Dá-se ao fato
Que de mim sou desafeto
Ai de mim, pobre, ingrato

É por isso que eu passo
Por toda essa vergonha
Eu mato o meu tempo
Postando em blogs...

Pensando em vocês!

Eu posto uma canção pensando em vocês.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Os Maribondos

No ninho de maribondos jogaram fumaça
Os maribondos saíram porque lá dentro estavam
Joga fumaça na cabeça pra maribondo sair
Só sairá o maribondo que lá já existir

Não catuca maribondo de dia
Espera maribondo dormir
Maribondo com sono não briga
Maribondo com fumaça ri

De quê? Qual é a graça?
Quem é a garça, maribondo?
Que te disse que é por aí?

Jogaram fumaça no ninho dos maribondos
E eles voam sem direção
Parecem contentes, parecem raivosos
Ou não.

Maribondo sem fumaça voa e volta
Maribondo com fumaça voa e ferroa
O maribondo que volta se voa
Sem se ligar se é dá ruim ou da boa
Me importa.

Voa maribondo
E apaga a porta.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

O Rimador de Roma

Quem tem boca vaia Roma
O rimador vai à Roma
O rimador de remo rema no rio para em Roma rimar
Remaria e rimaria, mas em romaria Roma ria do rimador
Do rio o rimador remava e rimava, mas não ria como ria toda Roma em romaria
Maria, má, ria como Roma ria em romaria do rimador que remando rimaria
O rimador não ria ou sorria, só ria do rio que remaria até Roma com aroma de romaria
O rimador queria que Roma que ria do remar das rimas não risse das rimas de quem rimava, remava e ria
Roma trava a língua do rimador e dá só remos para que solene só reme e não rime
O rimador só de remos não rima
Sem rima o rimador só tem dor.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Ego ou fome.

Estranha sensação
Esta a qual me entrego
Não sei se é fome, ou se é ego
Sei somente que acontece na minha barriga.
Ou será no meu umbigo?
Será que acontece só comigo?

Queria saber o que é
Para dar-lhe um nome
Não sei se é ego, ou se é fome
Fica difícil saber
Em meio a minha vaidade
Diferenciar com precisão
Desejo de necessidade

Saciarei tal vontade
Senão me apego
Mas é vontade da fome, ou do ego?
Ao corpo, soa apenas
Como um sinal de alerta
Que tenta manter
Minha humanidade desperta

Pela fome meu Eu se move?
Pelo ego meu Eu te come?
Te movo com ego.
Te como com fome.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Nosso brutamor

Sempre ando com cara de mau
Isso chamou sua atenção
Quebrei dois magrelos ali
E arranhei o seu coração
Decidimos nos reencontrar
Só pra ver se iria rolar
Uma pancadaria a dois
E beijar nossos hematomas depois

Hoje você assiste filmes de caratê
Para depois tentar me bater
Mas basta um pescoção
Para você beijar o chão
Ninguém invade nosso antro
Eu já estou quase morto
Pois a gente mete tanto (mas tanto)
A porrada um no outro

Quando te jogo na cama, ou na parede,
Te chamo de lagartixa
E só pra me irritar, você
Me chama de bicha
Logo eu fico louco
Te dou um soco nos olhos
E você - cruel
Chuta meus ovos

Mas com agressão que sou lascivo
- Eu te amo, filha-da-puta!
O nosso amor é agressivo


E na cama sou eu que grito:
- Eu te amo, filha-da-puta!
O nosso amor é agressivo

Rio Magenta

Era magenta-negro desde criança e ia assistir ao jogo no Maracanã. Ia de carro pela Linha Magenta. Parou no sinal magenta e, distraído com uma exuberante mulher num vestido magenta na calçada, não viu os assaltantes se aproximarem do seu carro. Tinham os olhos magentas, de crack e ódio. Ele tentou argumentar:
- Deixa pelo menos os ingressos, amigo. Meu time tá em terceiro e hoje pode ser que...
Foi interrompido por um deles:
- Amigo? Terceiro? Respeita nós, alemão. Nós é CV. Comando Magenta!
- Analfabetos – Pensou ele, antes do segundo tiro.
Seu sangue magenta no negro do chão.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Tango de Verdade

A
Sensatez
Não explica
A minha razão
Eu
Já bem sei
Que só é verdade
O que é invenção

Não tente se aproximar
Da minha convicção
Ou verá que a verdade do tango
É a sua paixão

Permita-se enganar
Mas nunca por engano
Pois tudo é verdade
Como é de verdade este tango

Esse tango é arte
É tango de verdade
É tango inventado
Esse tango é arte
É tango de verdade
É tango sublimado

A
Sensatez
Não explica
A minha emoção
Eu
Já bem sei
Que só é verdade
O que é devoção

Não tente se aproximar
Da minha percepção
Ou verá que a verdade do tango
É só uma opção

Esse tango é arte
É tango de verdade
É tango inventado
Esse tango é arte
É tango de verdade
É tango sublimado

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

I want to be Tupiniquim

Baixando ringtones
No meio da Lapa
Tocando Ramones
Tomando cachaça

Eu quero ser assim

Ter Rock na bossa
Londres na roça
Samba na Europa
Puros-sangues na fossa

E medo de sacis

Quero chicletes de banana
Chopps de Açaí
Viver Like a Rolling Stones
Igual à Rita Lee

Ver Björk & Xororó
José Wilker e Jet Li
Pinta Pagu, Picasso
Na Terra Média, O Guarani

Baby,

Eu quero ser assim

I want to be a Tupiniquim
Dentro das minhas calças jeans.

sábado, 13 de dezembro de 2008

Jogo-da-Velha

Havia espaço para nós.
Eram nove deles.
Bem família, formei um modesto
Círculo no canto, como um chão.
Insegura, ela acrescentou um “x” à questão.
Eu privilegiei o círculo, pondo-o acima
Da questão insólita.
Mas do lado oposto
Ela me veio com outra incógnita.
A aprisionei com uma esfera, no canto
Quando este se via livre.
E, talvez por desespero,
pôs ela mais um “x” no meio.
A base era toda minha, mas acho
Que por amor a ela
Circulei em outros cantos
E deixei que desse ‘velha’.

(entre parênteses)

Eu sou, ou estou, ou serei... uma pessoa cheia de dúvidas. Ou não! Mas gosto (ou não) de ser assim. Acredito e penso estar certo Apolo, o deus do sol: Médio tutíssimus íbis (o caminho do meio é mais seguro e melhor). Mas a paixão não tem um meio; sempre será um extremo, (quase) sempre o melhor. Então, para que manter sempre equilibrada a balança? Se ela é sempre justa, poderá ela pesar a favor daqueles que possuem poucos recursos e muita fome? Fome, fome, fome: (de comida), (de alegria), (de gente para se querer bem).Sou assim: mais um (homem) entre parênteses, mais um (homem) que termina em reticências...

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

A Grande Jaqueira

Eu a vi semente sendo plantada.
Hoje ela é maior que eu.

Agora ela é forte e vigorosa,
Produz alimento,
Oferece sombra fresca,
Serve de repouso para as aves.
Ela até mesmo transforma gás carbônico
Em oxigênio.

Hoje eu vejo a semente.

Ela é maior que eu.

Xuxa moderna

"Cobertura de
Xuxa pega
fogo.

Fogo
cobertura de
Xuxa pega.

Xuxa pega
cobertura de
fogo"

Refletindo sobre as massas

Duas varetas de macarrão. Paralelas. Deviam se encontrar no infinito, mas se encontraram na panela. E na água quente se tocaram...

Será a água quente o infinito?
Não, não é... os dois macarrões nem mais paralelos são. Agora eles são moles e se enlaçam, dobram-se, mas com poucos movimentos. São lesmas acasalando.

Por um momento pude ver uma pálida silhueta refletida na água fervendo. Era meu próprio rosto. Eu mesmo estava mais inerte do que aquelas sêmolas insolentes que transavam no infinito!

A inveja tornou-se cólera. Esta se escondeu em meu estômago e se disfarçou de fome.

Escorri, refoguei e derramei molho sobre elas de forma que não pudessem mais poetizar seu escárnio. Eu as devorei... Por prazer e desprezo, eu as devorei!

Quando perguntei-me se estava satisfeito, sorri e disse a mim mesmo: infinitamente.

Amor de Tolo

Ou amo, ou entendo
As pessoas ao meu redor
Quando menor o entendimento
Se torna o amor maior

Do pó ao pó

O Homen veio do pó
Sentindo-se só, pediu a mulher.

Mulher, mulher, mulher.

A mulher lhe deu o fruto proibido.
Ele comeu e teve de se alimentar do suor
Do próprio trabalho.

Trabalho, trabalho, trabalho.

Então o Homem sentiu-se cansado, desanimado.
E a única coisa que lhe fazia prosseguir era a carreira.

Carreira, carreira, carreira.

Henrique-se

Tenha como segredo do teu absurdo
o trocadilho.
Quem se Henriquesse
Foge à miséria